A
Reforma Protestante é um movimento que merece destaque na análise
da subjetividade moderna. Essa Reforma colocou o indivíduo no mundo,
pois se a vocação permanecia uma tarefa estabelecida por Deus; a
maneira aceitável de viver situava-se principalmente, no desafio de
cumprir as tarefas do século, através de suas ações terrenas.
O
nascimento da subjetividade moderna está profundamente enraizado no
meio em que se desenvolveu, que foram basicamente a teologia, a
filosofia e a economia da espiritualidade cristã. Para Lutero o
aspecto de exterioridade do cristianismo na época era uma das
críticas que construíram a Reforma. Em suas obras ele evidencia o
aspecto interior como de maior importância.
Voltemo-nos
pois, em primeiro lugar, “a pessoa interior”, para ver o que faz
com que ela se torne justa, livre e verdadeiramente cristão, isto é,
pessoa espiritual, nova, interior. É evidente que em absoluto
nenhuma coisa externa, qualquer que seja o nome que se lhe dê, tem
qualquer significado para a aquisição da justiça ou da liberdade
cristã [...] (LUTERO. Obras Escolhidas, vol.II, p. 437, apud TOLEDO)
Em
suas obras, Lutero insiste no papel da graça em primeiro lugar e que
as obras da fé não são superiores a esta. Quanto a concepção
dualista do homem, separa profundamente as coisas espirituais das do
corpo, evidenciando dupla natureza humana, configurando uma Ética
dualista e mais voltada para o espiritual.
A
exterioridade não salva a alma, nem por ritos ou vestes. O homem que
tem fé executa boas obras, mas isso não leva à fé. Nesta visão
de mundo, a fé vem em primeiro lugar e as obras são consequências.
A subjetivação da fé é uma característica moderna que advêm do
humanismo deste período.
Na
época foram geradas diversas polêmicas devido ao posicionamento e
as obras de Lutero, entre elas destaca-se a ocorrida com Erasmo de
Roterdã que entre os temas debatidos figuravam o livre-arbítrio e o
indivíduo em si, que inicialmente pareciam restritas à religião,
mas extravasaram os limites passando a constituir uma das bases do
sujeito moderno e de diversos posicionamentos políticos e sociais.
Uma
das contribuições decisivas para construção da subjetividade
moderna deve-se a introdução definitiva da educação e da
pedagogia como fundamentos da realização subjetiva e social.
Cria-se o novo sujeito, com visões diferentes sobre o mundo, o homem
e Deus. Em todo este processo de desenvolvimento e amadurecimento do
conceito de subjetividade, a educação paulatinamente passou a
adquirir uma relevância cada vez maior, pois o ato de educar era num
primeiro momento um ato relacionado à fé e à salvação, que só
no passar do tempo assumiu o caráter de preparação para o trabalho
com a Revolução Industrial.
Lutero
coloca a questão da universalização da alfabetização como
necessária, e aborda as obrigações dos pais em relação aos
filhos, desenvolve-se no indivíduo a noção de responsabilidade
individual que é a base sobre a qual se assenta o direito moderno.
Todas estas ideias serviram de contribuição para que Descartes
fundasse o sujeito moderno na filosofia.
Posteriormente,
com
o
desenvolvimento
das
correntes
filosóficas,
o
Empirismo
irá
fornecer
a
base
teórica
e
metodológica
para
o
nascimento
da
Psicologia.
Enquanto
discutia-se
filosoficamente
a
importância
dos
sentidos
na
aquisição
do
conhecimento,
a
Fisiologia
(ramo
experimental
da
Medicina
em
forte
ascensão
na
época),
preocupava-se
em
entender
como
os
sentidos
funcionavam.
Este
problema
do
homem,
delineado
e
compreendido
a
partir
da
experiência
sensorial
foi,
e
continua
sendo,
objeto
de
intensa
discussão
e
elaboração.
O
contexto
histórico
vigente,
englobando,
o
avanço
técnico
na
imprensa,
a
intensa
participação
de
pregadores
populares,
os
diversos
movimentos
sociais
e
anticlericais,
a
configuração
de
estados
nacionais
e
o
surgimento
de
formas
pré-absolutistas
de
governo
na
contramão
do
universalismo
medieval,
contribuíram
para
o
florescimento
e
os
desdobramentos
da
Reforma.
Lutero
não formulou uma teoria da subjetividade, mas contribuiu de muitas
maneiras para sua institucionalização. Ainda que não seja
considerado formalmente um filósofo, no sentido estrito do termo,
ele constitui-se como um pensador de fundamental importância para
sua época e para a construção do pensamento nas futuras gerações.
REFERÊNCIA:
TOLEDO,
Cesar
de
Alencar
Arnault
de.
Instituição
da
Subjetividade
Moderna:
A
Contribuição
de
Inácio
de
Loyola
e
Martinho
Lutero.
Disponível
em:
www.unicamp.gov.br.
Acesso
em
04/04/2012.