domingo, 29 de abril de 2012

Ética e sigilo na Psicologia.



  Uma das questões mais discutidas na atualidade é a ética e sua aplicação no cotidiano das mais diversas áreas do conhecimento humano.
  Referente ao aspecto profissional, há regras que são direcionadas a algumas áreas trabalhistas, são os Códigos de Ética que regem os profissionais em suas áreas de atuação. E o evento promovido pela Faculdade Castro Alves, ocorrido no sábado dia 24 de Março de 2012, abordou os Códigos de Ética norteadores das profissões: Ciências Contábeis, Psicologia e Administração, representados, respectivamente, pelos professores Jumara Teodoro, Rita Rapold e Vaner Prado, tendo como mediadora a professora Aldenora Lima.
  Diante do contexto abordado, compreendemos que a ética objetiva o equilíbrio e o bom funcionamento social, não pode ser confundida com leis, embora esteja pautada na justiça. E, ao que concerne a Psicologia, cujos princípios fundamentais estão baseados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, respeito, liberdade, dignidade, igualdade e integridade do ser humano, a ética assume uma posição de grande relevância, pois, segundo o nosso entendimento sobre o Código de Ética, a atuação do profissional de Psicologia exige fundamentalmente a observância do sigilo, do zelo pela dignidade da profissão e preservação da vida humana. A exemplo da situação citada pela professora Rita Rapold, “Em casos em que o paciente é criança, incapaz ou adulto e apresenta comportamento que possa comprometer a si mesmo ou colocar em risco a vida de outrem, através de suicídio ou homicídio, o psicólogo poderá ou deverá quebrar o sigilo comunicando aos familiares ou as autoridades competentes”. Existem, então, circunstâncias em que o sigilo profissional poderá ser flexibilizado.
  Entendemos, então, que ética é um compêndio de direitos e deveres que perpassa por todas as profissões, entretanto no campo da Psicologia apresenta grande importância no aspecto do sigilo, pois o seu objeto de trabalho é a subjetividade do ser humano.

Contribuição da ética individualista da Reforma de Lutero para formação da Psicologia.


       A Reforma Protestante é um movimento que merece destaque na análise da subjetividade moderna. Essa Reforma colocou o indivíduo no mundo, pois se a vocação permanecia uma tarefa estabelecida por Deus; a maneira aceitável de viver situava-se principalmente, no desafio de cumprir as tarefas do século, através de suas ações terrenas.
    O nascimento da subjetividade moderna está profundamente enraizado no meio em que se desenvolveu, que foram basicamente a teologia, a filosofia e a economia da espiritualidade cristã. Para Lutero o aspecto de exterioridade do cristianismo na época era uma das críticas que construíram a Reforma. Em suas obras ele evidencia o aspecto interior como de maior importância.

Voltemo-nos pois, em primeiro lugar, “a pessoa interior”, para ver o que faz com que ela se torne justa, livre e verdadeiramente cristão, isto é, pessoa espiritual, nova, interior. É evidente que em absoluto nenhuma coisa externa, qualquer que seja o nome que se lhe dê, tem qualquer significado para a aquisição da justiça ou da liberdade cristã [...] (LUTERO. Obras Escolhidas, vol.II, p. 437, apud TOLEDO)

      Em suas obras, Lutero insiste no papel da graça em primeiro lugar e que as obras da fé não são superiores a esta. Quanto a concepção dualista do homem, separa profundamente as coisas espirituais das do corpo, evidenciando dupla natureza humana, configurando uma Ética dualista e mais voltada para o espiritual.
       A exterioridade não salva a alma, nem por ritos ou vestes. O homem que tem fé executa boas obras, mas isso não leva à fé. Nesta visão de mundo, a fé vem em primeiro lugar e as obras são consequências. A subjetivação da fé é uma característica moderna que advêm do humanismo deste período.
       Na época foram geradas diversas polêmicas devido ao posicionamento e as obras de Lutero, entre elas destaca-se a ocorrida com Erasmo de Roterdã que entre os temas debatidos figuravam o livre-arbítrio e o indivíduo em si, que inicialmente pareciam restritas à religião, mas extravasaram os limites passando a constituir uma das bases do sujeito moderno e de diversos posicionamentos políticos e sociais.
      Uma das contribuições decisivas para construção da subjetividade moderna deve-se a introdução definitiva da educação e da pedagogia como fundamentos da realização subjetiva e social. Cria-se o novo sujeito, com visões diferentes sobre o mundo, o homem e Deus. Em todo este processo de desenvolvimento e amadurecimento do conceito de subjetividade, a educação paulatinamente passou a adquirir uma relevância cada vez maior, pois o ato de educar era num primeiro momento um ato relacionado à fé e à salvação, que só no passar do tempo assumiu o caráter de preparação para o trabalho com a Revolução Industrial.
      Lutero coloca a questão da universalização da alfabetização como necessária, e aborda as obrigações dos pais em relação aos filhos, desenvolve-se no indivíduo a noção de responsabilidade individual que é a base sobre a qual se assenta o direito moderno. Todas estas ideias serviram de contribuição para que Descartes fundasse o sujeito moderno na filosofia.
       Posteriormente, com o desenvolvimento das correntes filosóficas, o Empirismo irá fornecer a base teórica e metodológica para o nascimento da Psicologia. Enquanto discutia-se filosoficamente a importância dos sentidos na aquisição do conhecimento, a Fisiologia (ramo experimental da Medicina em forte ascensão na época), preocupava-se em entender como os sentidos funcionavam. Este problema do homem, delineado e compreendido a partir da experiência sensorial foi, e continua sendo, objeto de intensa discussão e elaboração.
      O contexto histórico vigente, englobando, o avanço técnico na imprensa, a intensa participação de pregadores populares, os diversos movimentos sociais e anticlericais, a configuração de estados nacionais e o surgimento de formas pré-absolutistas de governo na contramão do universalismo medieval, contribuíram para o florescimento e os desdobramentos da Reforma.
      Lutero não formulou uma teoria da subjetividade, mas contribuiu de muitas maneiras para sua institucionalização. Ainda que não seja considerado formalmente um filósofo, no sentido estrito do termo, ele constitui-se como um pensador de fundamental importância para sua época e para a construção do pensamento nas futuras gerações.



REFERÊNCIA:

TOLEDO, Cesar de Alencar Arnault de. Instituição da Subjetividade Moderna: A Contribuição de Inácio de Loyola e Martinho Lutero. Disponível em: www.unicamp.gov.br. Acesso em 04/04/2012.